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Alegrei-me ao encontrar esta bela carta que recebi do filósofo e cientista social Roberto Motta, amigo, compadre, colega de trabalho do meu marido. Transcrevo abaixo o seu conteúdo.
Fico muito impressionado com a atmosfera onírica que impregna a arte de Mazé Andrade. É como se a pintora ultrapassasse a porta mágica que nos leva ao mundo dos sonhos, dos jardins e das florestas encantadas, daquele mundo em que se encontram mergulhados os arquétipos, as raízes mais profundas do nosso inconsciente. Quando olho os seus quadros, o que sinto não é diferente daquilo que experimento ao ler os contos das Mil e Uma Noites ou do misterioso arroubamento que tomou conta do meu ser ao atravessar as ruas de Nova Délhi, em noite iluminada por um pedaço de lua que acabava de sair das histórias de fada da minha infância. Mas essas histórias de fada, a que me transporta a pintura de Mazé, será que de fato eu as li ou escutei, ou será que simplesmente as imagino, contemplando os quadros da pintora e recordando a Índia?
E aí se encontra o que a meu ver é a característica essencial da pintura de Mazé e de toda verdadeira arte. Fazer com que não só o próprio artista, mas também os que contemplam suas criações tornem-se outros além do que são em seu quotidiano de donas-de-casa, sociólogos, arquitetos, funcionários públicos, operários, psicólogos. Fazer com que nos superemos, ganhemos um valor suplementar, uma nova personalidade infinitamente preciosa, através da criação, do sonho, do transe.
São quase as palavras de um grande sociólogo frances, Michel Leiris, que usei para descrever o entusiamo que me causam os quadros da minha comadre e grande amiga Mazé Andrade, cujo trabalho venho seguindo há vários anos e que, além do contentamento que nos dá, ao transportar-nos ao reino da beleza, nos ensina uma lição muito importante. "O essencial é invisível aos olhos", dizia outro francês, Antoine de Saint-Exupèry. Pois bem, vou ousar corrigir este escritor. O essencial é o que é visível aos olhos da artista;o básico é aquilo que, através de sua visão, aprendemos a ver - esse mundo tão antigo e tão novo, que dá a nossa existência suas verdadeiras cores.
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ROBERTO MAURO CORTEZ MOTTA é graduado em Filosofia pela UFPE (1962), possui mestrado em Ciências Sociais pelo Institute of Social Sciences, em Haia, Holanda (1964) e doutorado em Antropologia por Columbia University (1984), além de pós-doutorado em Paris, Roma, Harvard e Los Angeles. Ocupa a cadeira 46 (membro emérito) da Academia Pernambucana de Ciências. Tem sido professor ou pesquisador, permanente ou visitante na UFPE, Fundação Joaquim Nabuco (Recife), Universidade de Paris V (Sorbonne), Roma II, da Califórnia, em Los Ângeles, do Center for the Study of World Religions de Havard University, da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, da Universade Estadual da Paraíba, da Universidade de Caën, etc.
Fonte: https://academiapc.org/academicos/46-1-roberto-mauro-cortez-motta/
GALERIA DE FOTOS
Com Francisco Brennand e o meu marido, o sociólogo Bonifácio Andrade.
Com Gilberto Freyre, dona Magdalena, meu marido e meu filho.
Com o professor José de Barros e amigos artistas.
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