Homenagem ao centenário do Surrealismo
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Homenagem ao centenário do Surrealismo

Atualizado: 18 de abr.

Obras de Mazé, inspiradas no movimento artístico, participam de exposições.






Há 100 anos, André Breton publicou o primeiro Manifesto Surrealista, corporificando, assim, a alma de um movimento que influenciou gerações de artistas até os dias atuais. Como nada brota do nada, o Surrealismo trouxe em seu germém o conceito de automatismo psíquico oriundo do Dadaísmo. Influenciado por Freud, cujas ideias estavam sob os holofotes da época, delegou suma importância ao sonho e ao inconsciente. O artista precisaria sentir (e não pensar) o mundo, expressando suas percepções e sensações sem o crivo limitante da razão. Ao longo de sua carreira, Mazé Andrade também foi influenciada por esse movimento, principalmente nas suas obras litográficas, desenvolvidas na passagem deste século. Após estudar desenho, pintura, monotipia e cerâmica, a artista fez curso de litografia com o mestre Hélio Soares, do Departamento de Artes da Universidade Federal de Pernambuco. “Foi um período no qual permiti que meus sentimentos, minhas ideias da infância e da juventude, sempre permeadas pelo imaginário popular, escapassem livremente”, explica Mazé.


Exposições - Algumas dessas litogravuras estão em exposição, neste ano comemorativo do centenário do Surrealismo. São elas “Fantasias da Mente”, “Sobrevivência” e “Miscigenação”. As duas últimas participaram, entre fevereiro e início de abril, da coletiva “A Arte de Re-começar”, no Morumbi Town Shopping, em São Paulo, evento com a curadoria de Marisa Melo e realização da Up Time Art Gallery. Conforme texto curatorial, a mostra abordou o recomeço como um processo contínuo e multifacetado, revelando a riqueza da expressão artística, desde pinturas, fotografias e esculturas, oferecendo uma experiência sensorial completa. Destacando o papel crucial da arte como catalisadora de transformações pessoais e coletivas, convidou o público a refletir sobre suas próprias narrativas de renovação. Para Marisa Melo, o que torna a arte de Mazé tão impactante é sua capacidade de nos transportar para além do nosso cotidiano, permitindo-nos transcender nossas identidades convencionais. “Ao contemplar suas criações, somos convidados a nos reinventar, a descobrir novas facetas de nós mesmos e a ganhar uma nova perspectiva sobre a vida.  A arte de Mazé Andrade nos inspira a sonhar, a criar e a nos conectar com nosso próprio eu mais profundo, enriquecendo assim nossa existência com uma nova dimensão de significado e beleza”, comenta. 

Já “Fantasias da Mente”, obra de 1999, voltou à exibição este ano na exposição itinerante “Grandes Mestres”, cuja curadoria é assinada por Adriana Scartaris e pelo professor Oscar D´Ambrósio, com produção cultural de Lícia Valim. O evento busca reconhecer as relações dos artistas visuais do presente com os grandes mestres do passado, aqueles que formaram gerações, possibilitando que os profissionais atuais sejam “capazes de ver na arte uma forma de transcender o cotidiano, não tanto no sentido místico – ou talvez inclusive nele -, mas, principalmente, no estético e, acima de tudo, no existencial”, descreve D´Ambrósio na carta-convite.

A primeira fase da exposição aconteceu no Museu da Cidade de Sertãozinho, em São Paulo, entre 16 de fevereiro e 08 de abril. As obras seguirão agora para o Centro Cultural Chafi Miguel Salomão, em Cravinhos (SP). Por fim, serão expostas na CH. Faria Galeria de Artes, no Ribeirão Shopping Multiplan.










Sobrevivência


"Terra árida e Memórias Vivas: Uma Análise da Litogravura “Sobrevivência”, de Mazé Andrade. “A litogravura de Mazé Andrade, intitulada `Sobrevivência´, evoca uma narrativa profundamente enraizada em suas memórias de infância e na paisagem árida do sertão nordestino. A cena descrita revela um retrato visual vívido e poético, onde elementos como espinhos, palhas, peixes fora d´água e uma cobra abocanhando um animal magra e caído ganham vida nas mãos da artista. Nascida no alto da Serra da Borborema, na Paraíba, Mazé Andrade traz à tona lembranças de seus primeiros anos em um engenho, onde foi imersa em um ambiente de clima ameno, cercado por fontes e cachoeiras. No entanto, aos 9 anos, sua realidade mudou ao migrar para um município sujeito à estiagem, onde a seca e a escassez se tornaram parte integrante de sua vida cotidiana. A obra captura não apenas a aridez física do ambiente, mas também a sensibilidade e a complexidade das interações humanas com a natureza. A presença de figuras femininas, uma marca nos trabalhos de Mazé Andrade, acrescenta profundidade à composição. A imagem de uma mulher por trás, como se `segurasse´ o cenário, sugere uma conexão intrínseca entre o ser humano e a terra árida que a rodeia. Assim como o universo árido do sertão nordestino permeia suas obras, Mazé também retrata a exuberância da flora e da fauna das verdes matas da região interiorana, como de seu atual local de residência no Grande Recife. Através de sua arte, ela registra mundos díspares e inesquecíveis, capturando a essência multifacetada da vida e da paisagem nordestina. Em `Sobrevivência´, Mazé Andrade resgata cenas de sua infância, e convida o espectador a refletir sobre a beleza e a dureza da vida no sertão, celebrando sua rica herança cultural e suas experiências pessoais de uma maneira cativante e evocativa”. Marisa Melo “Sobrevivência” Litogravura 48 x 66cm


Miscigenação


"A miscigenação é um conceito que remete à mistura de diferentes etnias, culturas e origens, resultando em uma diversidade única e rica. Nas litogravuras de Mazé, a miscigenação é representada através da fusão de elementos simbólicos e rostos que refletem a multiplicidade da experiência humana e a conexão entre diferentes identidades e histórias”. Marisa Melo Em Miscigenação, Mazé Andrade reflete sobre nossa existência como criaturas da natureza e essa, em sua abundância e diversidade, nos facultou também o desenvolvimento de características múltiplas. Reunidos, os diferentes povos criaram seus costumes e tradições, formaram suas etnias, convivendo com a natureza-geratriz conforme suas necessidades.  Na obra, a natureza se materializa na figura central, assumindo forma de uma casca de árvore que se espalma para lançar suas sementes; o olho, sempre presente nos trabalhos de Mazé, é o da providência Divina, ou da prória mãe-natureza (criador e criatura). Abaixo dele aparecem as sementes. Acima, mais discretamente, é possível ver uma porta. As figuras laterais são oriundas da mesma matriz. Com isso, a artista ressalta que, mesmo que os povos tenham formado etnias diferentes, miscigenadas posteriormente no decorrer da História, viemos todos de uma mesma origem. As diferentes flores, folhas e frutos que temos não fauna, por exemplo, algo dissonante. A harmonia natural resulta da irmandade, e assim deve ser entre os homens. As espirais na base e no rosto denotam as constantes mudanças das pessoas, em diferentes aspetos, ao longo de seu processo evolutivo. Enfim, nada está “solto” nas sociedades e no universo, todos os seres vivos se apresentam imanados da origem à eternidade. Dados Técnicos Miscigenação 48 x 66 cm Ano: 2001 Cópias: limitada a 10 cópias



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